SEMANA DOS SEMINÁRIOS 2024
Nota pastoral
QUE POSSO EU ESPERAR? (Salmo 39,8)
Entre 3 e 11 de novembro, decorre a Semana de Oração pelos Seminários. Uma semana especial, onde as comunidades, famílias e cada um pessoalmente, é chama-do a refletir sobre a realidade dos Seminários e os seminaristas, os candidatos ao sacerdócio.
O lema proposto para este ano, “Que posso eu esperar“, leva-nos a, mais do que a centrar-nos e pensar nos aspetos negativos que nos vamos dando conta que fazem parte da realidade – menos Seminários e menos candidatos ao sacerdócio, a centrar-nos no que temos de fazer, nas condições que temos de criar para que algo de novo aconteça, confiando sempre que o Senhor não nos abandona (Sl 39,8). Vivemos um tempo de perplexidade e desconforto, mas também de esperança.
Diante dos tempos difíceis que experimentamos, temos de esperar, não pode-mos render-nos ao desânimo ou ao indiferentismo, mas sim redescobrir novos mode-los de ser seminário e ser seminarista. A esperança tem de traduzir-se em ações, que devemos traduzir em atitudes concretas de escuta, acompanhamento e compromis-so. Ao lado da escuta do Seminário e do seminarista está a escuta dos irmãos, de todos os homens e mulheres que escutam o chamamento de Deus, que a todos chama a uma vocação, e que nos capacita para respondermos e descobrirmos o nosso lugar, na construção da sua Igreja. Temos de ver o outro como um “dom de Deus para mim”. Esta dádiva do amor de Deus transforma e anima a central do pensamento e da ação humana que é o coração; deixa esperar a manifestação plena do esplendor de Deus em nós – fundamento para a esperança.
A este propósito, creio que seja oportuno recordar a parábola “Pérola preciosa” (Mt 13,45-46). O protagonista da parábola vende tudo o que tem para adquirir a péro-la, isto é, o comerciante possui agora a única pérola pela qual deu tudo. A parábola convida-nos a refletir sobre o que valorizamos nas nossas vidas. Neste sentido, a péro-la representa algo de valor incalculável, tal como a nossa vocação pessoal. A decisão deste homem vender tudo o que tinha para comprar a pérola reflete o tipo de com-promisso necessário para seguir uma vocação, a qual implica tomada de decisões.
Temos de apostar tudo para conseguir o Reino. Em primeiro lugar, é necessária uma atitude de procura: não ficar numa apatia indolente, mas procurar o que é fun-damental na e para a vida. Para Cristo, o fundamental é o Reino que nos deu: é a rea-lidade que deve entusiasmar toda a existência e é capaz de mudar radicalmente a orientação de toda uma vida. Isto supõe uma opção prévia a favor de algo que se en-controu e pelo qual vale a pena dar a vida. Não basta encontrar o tesouro, mas sim valorizá-lo como tesouro. Aquele que compreende a mensagem do Reino comprome-te-se de tal maneira que é julgado como louco pelos outros.
Em todos os tempos, houve relatos de aventureiros à procura de tesouros perdi-dos. Com frequência, essa procura determinou o sentido das suas vidas. A centralida-de da parábola reside na renúncia a tudo para possuir tudo. Ainda que, para alguns, seja loucura, importante é estar completamente seguro do valor daquilo que se compra.
Exorto as comunidades, as famílias, os catequistas e os professores cristãos a que promovam uma autêntica cultura vocacional, ajudando os jovens a descobrir o projeto que Deus tem para cada um. Apesar da escassez do número das vocações sa-cerdotais, ainda se encontram jovens animados pela busca sincera de uma autêntica espiritualidade e pela procura do sentido para as suas vidas, abertos a Deus enquanto sentido último das suas existências. O chamamento de Deus chega através de media-ções humanas. Por isso, a comunidade cristã é convidada a chamar. Todos e cada um dos seus membros são responsáveis pela promoção das diversas vocações eclesiais para a construção do Reino de Deus.
O Papa Francisco diz que a esperança é a virtude de quem tem o coração jovem. Em tempos difíceis, como são os nossos, há, diante de cada um de nós, um desafio fundamental do qual depende a realização plena da nossa existência. Durante esta semana dos seminários, procuremos desenvolver em nós um processo de escuta e de procura, descobrir os dons que recebemos daqueles que, na nossa vida, foram presen-ças cheias de sentido, e perguntemo-nos quais foram as transformações mais impor-tantes pelas quais estamos reconhecidos. A todos os jovens que se interrogam ou já tomaram a decisão de entrar no Seminário, digo que avancem, que não deixem que o medo os vença.
Deus ao prometer à sua Igreja pastores segundo o seu coração, também diz: “Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe” (Mt 9,38). O cuidado e a oração pelas vocações ao sacerdócio são centrais nesta semana. Apelo a rezarmos pelas vocações, seja na dinâmica de oração no Mosteiro Invisível Vocacional, que devemos incrementar e implantar em todas as paróquias da Diocese como propõe o nosso Serviço das Vocações, seja pelo convite aos adolescentes e jovens a participar nos encontros promovidos pelo Pré-Seminário. A generosidade de todas as comunida-des cristãs para com a comunidade educativa do nosso Seminário é fundamental para que realmente ele seja o “coração da Diocese”. Só assim podemos fazer crescer o amor pelos seminários e pelas vocações de consagração tão necessárias nas nossas comunidades cristãs.
Rezemos para que o Senhor inspire e entusiasme os jovens ao seguimento de Jesus, com o mesmo estilo de vida, vivido em comunidade e ao serviço do Reino. Ajudemo-los a vislumbrar opções maduras e consistentes, a encontrar a pérola preciosa de valor infinito.
Que a exemplo de Maria, a Virgem da Espera, saibamos sempre o que podemos esperar. Que o amor que a levou a abandonar-se totalmente nas mãos de Deus inspi-re, ajude e sustente o nosso crescimento espiritual, respondendo à voz que chama, com disponibilidade, generosidade e confiança.
ORAÇÃO DA SEMANA DOS SEMINÁRIOS
Deus Pai,
amigo dos que procuram,
ensina-nos a levantar os olhos e a ver
que rompe já a aurora de um novo tempo
de esperança.
Senhor Jesus,
companheiro dos que se interrogam,
faz-nos acolher a visitação da Tua voz
que ecoa nas perguntas que guardamos
e nos convoca para o serviço
da Tua Igreja.
Espírito Santo,
fogo dos que se incendeiam com sede
da vida com que nos insuflas e confirmas,
inspira-nos a responder generosamente
aos apelos que nos despertam
para a missão.
Que, com Maria, a discípula fiel,
saibamos sempre o que podemos esperar,
preferindo responder à voz que chama
com disponibilidade, generosidade e confiança.
Amen.
Aveiro, 20 de outubro de 2024 (Dia Mundial das Missões)
† António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro