Mensagem de D. António Francisco, Bispo de Aveiro
A Festa do Corpo de Deus, como habitualmente é designada, celebrou-se a primeira vez entre nós no domingo a seguir à Solenidade da Santíssima Trindade, depois da suspensão do feriado civil.
Vivemos esse dia, com o entusiasmo e beleza de sempre, nas nossas comunidades paroquiais ou em iniciativas de âmbito arciprestal, que urge incrementar cada vez mais. Afirmamos, assim, a nossa fé na Eucaristia e testemunhamos a nossa comunhão de Igreja.
Vivemos igualmente esse dia de adoração e de celebração, em simultâneo e em comunhão, com o Papa Francisco.
Ele exortou as dioceses e comunidades católicas do mundo a rezar na tarde do domingo, dia 2 de Junho, «pela Igreja espalhada pelo mundo e por todos aqueles que nas diversas partes do mundo vivem no sofrimento devido às novas formas de escravidão e são vítimas de guerras, do tráfico de pessoas e do trabalho escravo; pelas crianças e mulheres submetidas a qualquer tipo de violência”.
A minha patena e o meu cálice
A Eucaristia constitui tesouro da Igreja e herança preciosa que o Senhor nos deixou. E a Igreja guarda-a com o máximo respeito, celebrando-a, adorando-a e distribuindo-a a todos nós, como alimento para o caminho e força para a missão.
No centro da vida de qualquer comunidade cristã está a Eucaristia. E nós, sacerdotes da nova Aliança, somos testemunhas desta verdade e ministros desta «epifania» de Jesus Cristo na Eucaristia.
Vamos inaugurar no próximo dia 7 deste mês de Junho, Solenidade do Coração de Jesus e Dia de oração pela santificação dos sacerdotes, a Casa Sacerdotal de Aveiro.
Destina-se esta Casa Sacerdotal a receber os sacerdotes que, por doença, idade, trabalho ou outras razões, dela precisem e a acolher as pessoas que os acompanharam durante a vida.
Designei a Casa Sacerdotal, desde início, como Santuário de Gratidão. Assim a vejo, hoje. Gostaria que todos assim a encontrassem sempre.
Diariamente, em cada Eucaristia celebrada com o seu Povo, os sacerdotes proclamam, de tantos modos e em tantos lugares, um hino de louvor e de acção de graças ao Senhor.
No centro do edifício, agora construído, encontramos a Capela, para que ali diariamente se celebre a Eucaristia e os sacerdotes residentes possam continuar ao longo da vida este Hino de Acção de Graças a Deus.
Nas mãos erguidas, símbolo da Casa Sacerdotal, percebemos a força viva de uma árvore que se levanta da raiz da terra, numa bela sintonia entre o Seminário e a Casa Sacerdotal. O fruto está ligado à semente como a foz de um rio está unida à sua nascente.
Sinto, a partir deste belo símbolo, ainda mais actual, necessária e inspiradora a oração do Padre Teilhard de Chardin:
“Colocarei sobre a minha patena, meu Deus, a messe esperada de um novo tempo. Derramarei no meu cálice a seiva nova de todos os frutos que da árvore da vida recebi.
Meu cálice e minha patena são as raízes profundas da minha alma aberta ao Espírito de Deus.
Que venham celebrar connosco todos aqueles que a vossa luz divina desperta para uma nova jornada.
Recebei, Senhor, este pão, nosso esforço, e este vinho, nossa dor. Num e noutro colocastes, Senhor – disso estou certo, porque o sinto – um irresistível e santificante desejo, que nos faz a todos rezar: “Senhor, fazei-nos Um”.
O domingo, dia 16 de Junho, a partir das 15 horas, será Dia Aberto de visita a todos os diocesanos e a todos os amigos e beneméritos. Queremos abrir-vos, amados diocesanos, as portas da Casa Sacerdotal para que sintais que ali habita a vossa gratidão aos sacerdotes, que tão generosamente servem esta Igreja de Aveiro.
Caminhos de Missão
Com o tempo de verão, que agora começa, em nada vai diminuir o nosso entusiasmo neste caminho da missão.
Animados pela bênção de Deus e pela força encontrada nas etapas já percorridas, a nossa Missão Jubilar ganha agora formas inovadoras, abertas a realidades novas.
A época de férias traz-nos o reencontro com as famílias, a procura das nossas praias e lugares de descanso e o convívio com tanta gente que nos visita, porque gosta de nós e de Aveiro.
A Missão Jubilar é presença junto de todos e anúncio de Jesus Cristo para todos. É saudação e oração em nome d’Ele. É alegria e festa com Ele.
Queremos viver estes meses de verão, como tempo de acolhimento e saudação, de encontro e de oração, de convívio e de festa.
Neste mês de Junho vamos dar valor maior ao olhar do coração. Vamos saudar com alegria. Vamos acolher com amizade. Vamos quebrar silêncios que magoam. Vamos vencer a indiferença e do desprezo que provocam solidão e dor.
Há tantos habitantes das nossas terras que ainda não são vizinhos! Há tantos vizinhos que ainda não são próximos! Há tantos próximos que ainda não são irmãos!
Cumprimentar pode parecer um gesto banal. Saudar pode ser entendido como atitude menor. Um e outro são caminhos de fraternidade, por nós transformados em caminhos de missão por onde Cristo nos envia.
Vamos, por isso, dizer palavras que aproximam e ter gestos que nos fazem irmãos. Cumprimentar, comunicar e fortalecer a comunhão é afirmar a nossa humanidade no seu melhor e dar alma humana à sociedade em que vivemos. “Um dia vou cumprimentar-te…Hoje é o dia!”
Homem de paz e apóstolo da bondade
O Papa João XXIII faleceu há 50 anos, no dia 3 de Junho de 1963. Conservo dele, como primeira recordação, a memória que uma criança sabe guardar das pessoas de que gosta.
Aprendi mais tarde quanto a Igreja lhe deve como padre, como núncio, como patriarca e como papa.
Do tempo de Núncio em Paris ouvi belas histórias de humor e de admiração, contadas por pessoas próximas e amigas, que com ele privaram de perto. O Ministro do Culto, de França, Pierre Tedjen, seu amigo, ao saber da sua eleição desabafou com a família: “que pouca sorte tem a Igreja! Ele não tem jeito para tão pesada missão!”
Quando meses depois o visitou no Vaticano, ainda desconcertado pela sua eleição, mas agradecido pela audiência privada que lhe concedera, exclamou para a Esposa: “Teresa, agora acredito mais no Espírito Santo. Ele é a pessoa certa para o lugar certo”.
Muitas vezes lhe agradeci o Concílio que convocou e nos trouxe um tempo de primavera para a Igreja e uma aurora de esperança para o Mundo.
Nunca fui a Roma sem ajoelhar diante do seu túmulo. Sempre lhe pedi que me ensinasse a audácia dos que acreditam que gestos simples, quando inspirados por Deus, podem transportar em si o gérmen de decisões proféticas.
“Vive esta hora!” é lema da nossa Missão Jubilar, a exemplo da bela oração “Hoje” do Papa, Beato João XXIII.
Muitas vezes lhe tenho falado da Missão Jubilar de Aveiro, no segredo das nossas confidências, ancorado na certeza da sua intercessão.
Também a ele, hoje, rezo para que os caminhos da Igreja de Aveiro sejam sempre caminhos de missão, percorridos por mensageiros das bem-aventuranças do Evangelho e por apóstolos da bondade de Deus.