Bem-aventurados os construtores da paz
Iniciamos 2013 sob o signo da paz. Desde 1967 que o Papa Paulo VI convidou o mundo a começar cada novo ano com a celebração do Dia Mundial da Paz. A paz continua, tantos anos depois, a ser urgência do dia primeiro de cada ano e de todos os dias do ano inteiro.
A mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz de 2013 inspira-se na bem-aventurança do evangelho: “bem-aventurados os construtores da paz”.
Bento XVI faz do anúncio evangélico e do gesto profético de Paulo VI um corajoso «grito pela paz» e dá voz a um sustentado esforço de promoção do bem comum, condição essencial para que a paz seja realidade no íntimo de cada pessoa, no interior de cada família e no convívio dos povos.
A paz é ideal, projecto, direito, valor e compromisso de crentes e não crentes. A Humanidade não pode calar a sua voz e os que sofrem indiferença, abandono, violência, ódio, guerra ou exílio têm direito a sentir que a esperança renasce em cada início de um novo ano e que é de todos nós a causa da paz.
Estamos, também nós, unidos em Igreja com toda a Humanidade, neste «Grito pela Paz», feito clamor comum e voz unânime de crianças, jovens e adultos. Esta iniciativa da Missão Jubilar, realizada em dimensão arciprestal, convoca pessoas, instituições e comunidades para, num espaço comum em cada arciprestado e à mesma hora em toda a Diocese, dizermos a uma só voz, no próximo dia 11: “Um dia vou gritar a Paz…Hoje é o Dia!”
Junta-se à nossa voz e à nossa presença o brilho da luz que brota da alma solidária de dez milhões de portugueses como se fossem outros tantos milhões de estrelas que iluminam este céu abençoado da nossa terra, para que compreendamos, de uma vez por todas e para sempre, que a «paz é dom de Deus e obra humana», é bênção que nos vem do céu e semente que germina da terra.
Queremos que este «grito pela paz» se faça presença solidária a levar paz a tantos corações doridos para que, pela bênção de Deus, a paz se transforme em pão, em trabalho e em esperança.
Presente e Memória
No próximo dia 20 de Janeiro vamos inaugurar oficialmente, no Museu de Santa Joana, a Exposição“Diocese de Aveiro-Presente e Memória”.
Esta Exposição constitui um elemento essencial da Missão Jubilar. Ela possui um acrescentado e oportuno objectivo ao trazer para novos átrios de conhecimento e de contemplação a beleza da arte e o valor da fé.
Encontrar, a partir da arte, as marcas do tempo, conhecer a geografia da terra e contemplar a vivência cristã das comunidades, num olhar presente e simultâneo e no lugar emblemático do Museu de Aveiro, outrora Convento de Jesus, onde viveu e repousa Santa Joana Princesa, nossa Padroeira, é uma nova forma de evangelizar e um belo testemunho de missão.
Queremos, com esta Exposição, oferecer aos diocesanos de Aveiro e a quantos nos visitam um roteiro que nos leve a percorrer os caminhos da Diocese, guiados pela magia do tempo, pela grandeza da história e pela densidade da fé.
A Igreja de Aveiro ergueu-se em campo aberto, amplo e livre, e viu construir templos no chão sagrado que desce das colinas da serra, se desdobra pelos recortes serpenteados da ria e se estende pela orla do mar. Esta é, em Portugal, uma estranha e única geografia que Deus tornou tão bela e que homens e mulheres fizeram, no decurso do tempo, pela força do trabalho e pela bem-aventurança da fé, terra habitada, progressiva e cristã.
Recolhemos, em cada uma das cento e uma paróquias da Diocese, tudo quanto nesta Exposição se apresenta. Teremos, igualmente e em simultâneo, informação da «Diocese-em números», onde se espelha a alma viva e o rosto belo da Igreja de Aveiro.
Deixemo-nos surpreender por algumas iniciativas integradas no espírito e no tempo desta Exposição, para que se ampliem os nossos horizontes de reflexão, de cultura, de diálogo e de fé.
Visitemos, todos, esta Exposição. Procuremos ver com os olhos do coração e da fé, como quem reza, atraído pelo encanto do transcendente ou inspirado pelo fascínio da santidade e admiremos a arte e a beleza, como quem eleva um hino ao talento humano das gerações que nos precederam.
O diálogo entre a Igreja e a Sociedade passa, mais vezes do que imaginamos, pelos umbrais da arte e aí se abrem as portas da fé, porque a arte e a cultura transportam em si um ministério profético.
Que esta Exposição, ao revelar o valioso património da Igreja de Aveiro o faça ainda mais pertença de todos nós e nos desperte neste dinamismo da Missão Jubilar para um futuro novo para a Igreja e para a nossa Terra, abençoado por Deus e trabalhado pelo talento humano.
Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso: Rumos
Integrada na Missão Jubilar, vamos realizar, no próximo dia 23 de Janeiro, no Cine-Teatro de Estarreja, a segunda Sessão/Debate, centrada no tema: Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso: Rumos.
A cinquenta anos do início do Concílio Ecuménico Vaticano II e em pleno Oitavário de oração pela unidade dos cristãos tem todo o sentido alargarmos horizontes de reflexão e perspectivas de missão à urgência e ao valor da comunhão ecuménica e do diálogo inter-religioso.
Temos entre nós várias comunidades cristãs não católicas e vivem connosco em diálogo aberto e convívio franco muitas pessoas com outras convicções religiosas. Basta lembrar mais de mil e quinhentos jovens estrangeiros, provenientes de dezenas de países do mundo, que vivem e estudam em Aveiro, possuidores de grande riqueza humana e de valioso património cultural e religioso, que urge conhecer, respeitar e acolher.
Para nos abrir campo de reflexão e de diálogo, vamos ter connosco D. António Couto, Bispo de Lamego e Presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, que integra o âmbito do Ecumenismo, e Doutor Jorge Sampaio, antigo Presidente da República e Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações.
A experiência e o êxito da primeira Sessão/Debate realizada em Vagos avivam a expectativa para uma afirmada participação e fazem-nos sentir que desta forma somos, também, mensageiros das bem-aventuranças e obreiros de um mundo onde a dignidade humana se afirma e o direito à verdade da fé e à experiência do sentido religioso da vida se respeita.
Alegria e gratidão
A Missão Jubilar integra providencialmente, no seu decurso, vários marcos da nossa história que queremos evocar e viver como datas duplamente jubilares.
Com o mesmo espírito com que desde início o fizemos, quero hoje recordar que, em 20 de Janeiro de 1988, com a resignação do Senhor D. Manuel de Almeida Trindade, assumia o ministério de Bispo Diocesano, o Senhor D. António Baltasar Marcelino, tendo iniciado solenemente o ministério episcopal, em celebração festiva, na Sé de Aveiro, no dia 7 de Fevereiro seguinte.
D. António Baltasar Marcelino, oriundo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, onde nasceu e a cujo presbitério pertenceu, chegou a Aveiro, em 1981, como Bispo Coadjutor depois de ter sido Bispo Auxiliar de Lisboa, e foi Bispo Diocesano desde 1988 a 2006.
Cumpre-nos a todos agradecer a Deus o dom da sua vida, do seu ministério e da sua presença no meio de nós, lembrar a generosidade da sua entrega por inteiro, do seu zelo pastoral e do seu dinamismo apostólico.
A exemplo do que fizemos no passado dia 8 de Dezembro, ao evocar, cinquenta anos do início do ministério episcopal do Senhor D. Manuel, vamos celebrar, na Sé de Aveiro, a Eucaristia das dezanove horas do dia 17 de Fevereiro, no primeiro domingo da Quaresma, neste gesto de alegria e de comunhão com o Senhor D. António Marcelino e pedir para ele saúde, bênção e graça para continuar a servir, com a mesma alegria e igual generosidade, esta Igreja de Aveiro.
Aveiro, 6 de Janeiro, Epifania do Senhor, de 2013
António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro