O bispo de Aveiro lançou em outubro a Missão Jubilar que vai decorrer até 11 de dezembro de 2013, nos 75 anos da restauração da diocese, um tempo de renovação das comunidades e de compromisso na Igreja e na sociedade. Uma ideia mobilizadora que quer chegar ao coração dos 350 mil habitantes do território diocesano.

LFS/Agência Ecclesia
Agência Ecclesia – Quando surgiu a ideia de propor a Missão Jubilar à Diocese?

D. António Francisco dos Santos (AFS) – Em 2008. No dia 12 de maio, dia da celebração de santa Joana Princesa (a nossa padroeira), escrevi uma carta aos sacerdotes a comunicar a minha intuição pastoral: preparar a Missão Jubilar Diocesana para celebrar, de forma diferente, os 75 anos da restauração da diocese.

O mesmo comuniquei ao Conselho Presbiteral e Pastoral e a toda a Diocese no início do Ano Pastoral 2008/2009. Foi, por isso, um projeto rezado, refletido e sonhado desde que entrei na Diocese de Aveiro.

AE – Teve essa intuição desde que entrou na diocese?

AFS – Sim. Nos meses que prepararam a minha entrada na diocese (entre a nomeação pelo Papa Bento XVI, no dia 21 de setembro, e o início do ministério, a 8 de dezembro) procurei conhecer a história, o percurso e a vida da diocese de Aveiro. Pensei que entre 2006 e 2012 havia tempo para programar uma caminhada de renovação da diocese e anunciar um “Ano da Graça”, que é um Ano Jubilar.

Ao anunciar esta missão jubilar, senti que é verdadeiramente um ano de bênção, enviado da parte de Deus, que anuncio. Há horas que devemos viver como horas únicas, importantes e novas para proclamar Boa Nova do Evangelho.

Quando entrei na diocese propus-me exercer o ministério de bondade, de proximidade e de acolhimento e ser mensageiro das Bem-aventuranças. E esta formulação das Bem-aventuranças que constitui o paradigma da Missão Jubilar.

Inspirei-me também na missão de Milão, do cardeal Carlo Martini e nos Congressos da Nova Evangelização.

AE – A intuição da Missão Jubilar tinha no horizonte criar proximidades com todas as pessoas, no diálogo proposto pelo Concílio Vaticano II?

AFS – A Missão, que abre a poucos dias da celebração dos 50 anos do início do Concílio – onde participou o bispo eleito de Aveiro D. Manuel de Almeida Trindade – e em sintonia com o Ano da Fé, inscreve-se nesse desejo de abertura da Igreja ao mundo. A Igreja não vive para si, vive para descobrir a solidez da fé, para anunciar a Boa Nova do Evangelho, para o testemunhar no mundo onde nós vivemos e para celebrar o amor redentor de Jesus Cristo pela Humanidade. E fazendo-o de portas abertas, com o coração livre, em espaços novos, ritmos diferentes, tempos diversos! A geografia humana, tornada nova geografia da missão, hoje, é outra e o tempo do anúncio da fé é diferente! A Missão Jubilar vai proporcionar-nos isso…

AE – A atitude de quem anuncia tem de ser diferente também?

AFS – Sobretudo o testemunho: a vida de quem anuncia o encontro com Jesus Cristo tem de ser feliz. E esse é o melhor contributo que podemos dar ao mundo de hoje.

Sinto muita alegria ao ver a igreja de Aveiro mobilizada, milhares de pessoas comprometidas na Missão Jubilar, a sociedade civil e as instituições sociais disponíveis para ouvirem a voz da Igreja e sentirem o desafio novo que lhe queremos oferecer.

AE – No momento da intuição da Missão Jubilar pensou também num resultado a atingir. Qual é?

AFS – É a consciência diferente e o trabalho diário que é pedido a todos os cristãos: é a alegria de acreditar e o compromisso de educação da fé e de formação cristã para os leigos e, para nós diáconos, padres e bispos, o testemunho feliz de sermos discípulos e seguidores do Mestre e pastores segundo o seu coração de Pastor. Para os consagrados o testemunho radical de vida, de acordo com os seus carismas. E que os leigos sintam que são Igreja, mensageiros e protagonistas da transformação do mundo no seu trabalho, na sua família, na vida pública, procurando «amar a Deus e servir», como é lema da nossa Diocese..

Eu sonho, acredito e trabalho para que esse tempo novo surja na igreja de Aveiro, onde a tenda de Deus se abra e todos lá se possam acolher de coração livre, sem preconceitos, sem limitações diante daqueles que batem à porta da Igreja, procurando Deus de forma silenciosa.

Esta intuição, rezada e sentida, quer que este ano possa ser um ano de Graça, mas também uma porta imensa que se abre para aqueles que precisam de encontrar na fé razões de esperança e razões para uma vida diferente, feliz.

AE – Não está em causa, então, um grande projeto, uma reorganização das estruturas e dos serviços…?

AFS – Vamos fazê-la também. No plano pastoral de 2008/2013 propusemos a reorganização das estruturas e dos serviços diocesanos e da distribuição do clero. Temos poucos sacerdotes, em seis anos apenas ordenei dois, mas sei do seu zelo apostólico e sinto que a comunhão que nos une é o solo fecundo onde diariamente se enraíza a Missão, e todos estamos conscientes de que a dinamização vocacional é também uma prioridade deste quinquénio pastoral e da Missão Jubilar. Estamos alegres e confiantes no despertar de vocações. Temos mais seminaristas, sente-se um espírito novo, cheio de alegria e de esperança no nosso Seminário e o projeto criativo que queremos realizar na sociedade, também no âmbito desta cultura vocacional é já visível. Mas que tem de vir do interior da Igreja, sendo missionária, mais ousada, criativa e mais próxima da realidade. Mais presente, atenta, acolhedora e solidária, por exemplo, na vida difícil e das provações por que passam muitas famílias.

AE – Como foi a receção da ideia da Missão Jubilar e a sua preparação nas várias paróquias?

AFS – Estamos a prepará-la desde 2008 (ela integra-se no plano pastoral 2008/2013).

A Missão Jubilar foi sempre muito partilhada, escutando a voz daqueles que pensando, refletindo e rezando davam ajudas e sugestões para melhorar o plano inicial. No Conselho Presbiteral e Pastoral, nas Assembleias de Movimentos, nos Arciprestados, em todos os lugares onde este debate e esta partilha foi feita fomos ouvindo sugestões, elaborando o guião que nos orienta neste ano de missão. A Missão Jubilar é de toda a Diocese e para toda a Diocese.

O trabalho prévio, aprofundando e auscultando amplamente o sentir das pessoas e a voz de Deus a falar através dos membros da Igreja que foram desenhando o perfil da nossa Missão: a Missão Mais, a Missão Onze, a Missão Cultura, a exposição no Museu de Aveiro, os concertos de debates, o congresso na Universidade, as catequeses em todas as paróquias.

Temos uma Comissão Coordenadora diocesana, presidida pelo Vigário Episcopal da Pastoral. Todas as paróquias têm coordenadores da missão, têm missionários para levarem as catequeses às outras paróquias, e todas têm mensageiros para repartirem, mês a mês, as sugestões, as ideias e o convite à participação na Missão Onze.

AE – A ideia foi, então, mobilizadora…

AFS – Sim… Sinto a alegria de ver a diocese mobilizada e milhares de pessoas empenhadas. A participação na formação dos coordenadores, dos missionários e dos mensageiros acontece com alegria, com encanto. Eles serão ativos, conscientes e responsáveis! Na convocação que fiz à diocese disse que todos somos necessários e todos somos indispensáveis.

Este trabalho vai dar origem à criação das Equipas Arciprestais de Pastoral que serão os mentores e protagonistas da continuidade da missão.

AE – Entre as muitas atividades, qual destaca?

AFS – Entre outras iniciativas, destaco, desde já, a abertura da Missão, no dia 21 de outubro, a que demos o nome de Génesis, como início deste tempo novo e único, de envio em Missão, a partir das porta abertas da Sé, com a entrega de um pedacinho de um Barco, o símbolo da nossa Missão, para que nos façamos ao largo nestes novos mares da evangelização. Depois realço a que vamos realizar, no coração do mês de maio, mês da Mãe de Jesus e nossa Mãe, a quem confiei desde início a nossa Missão, na nossa peregrinação de 11 e 12, com a peregrinação de todas as paróquias ao túmulo de santa Joana Princesa, valorizando a afirmação de fé que o peregrinar traz a cada cristão e a oportunidade de podermos ter, no centro da nossa Missão Jubilar, a celebração da santa padroeira, por quem nós aveirenses temos tanto carinho e devoção. Terá lugar nesse dia a inauguração da Casa Sacerdotal que queremos que seja um «Santuário de Gratidão», erguido bem perto do Seminário, coração da Diocese, aos sacerdotes e a quantos deles cuidam com dedicação.

A Semana Vocacional, a realizar em novembro de 2013, durante a Semana dos Seminários, é também muito importante a motivar e mobilizar a nossa diocese para esta prioridade pastoral. Destaco também o que vamos realizar em cada dia 11 – o dia 11 evoca o dia da execução da bula do Papa Pio XI, 11 de dezembro de 1938.

Mesmo tendo atitudes mais proactivas, como é a Tenda de Deus nas praias nos meses de verão e o Dia do Deserto que é proposta de retiro em cada um dos dez arciprestados da diocese, gostaria de sublinhar que o mais importante é o espírito que nos anima. A Missão Jubilar não é apenas um conjunto de atividades, mas um espírito novo de sermos Igreja, Igreja de Jesus Cristo no séc. XXI, 50 anos depois do Concílio, no Ano da Fé e 75 anos depois de sermos diocese restaurada.

Queremos que a Missão Jubilar seja para a família toda: crianças, adolescentes, jovens, pais, idosos e doentes. É na conjugação de sermos uma igreja diocesana, unida na caridade, educadora da fé, orante e família de famílias que nos sentimos em missão, com o desejo de levarmos o anúncio àqueles que por ventura se sentem mais distantes da Igreja ou vivem momentos de provação, de pobreza ou de marginalização. Queremos dizer a todas as pessoas, sem esquecer ninguém: “bom dia, eu saúdo-te”, “ Deus ama-te”, “ grita pela paz, clama pela justiça”, “esta é a hora”, vive esta hora” (que é o lema da nossa missão).

AE – Cumpre-se, com a Missão Jubilar, o perfil da comunidade eclesial que o Concílio Vaticano II desejou?

AFS – Quero que se cumpra! O Concílio tem necessidade de se concretizar em cada momento da nossa história, cumprindo-se em cada realidade concreta da nossa vida. Rezamos todos, na nossa diocese, para que o Concílio se cumpra e para que a Missão Jubilar da diocese de Aveiro em 2012/2013 revele mais e melhor a beleza do rosto belo, feliz e missionário da Igreja que o Concílio desejou e que Jesus Cristo nos propõe em cada dia.