Os anos de formação no Seminário são um tempo muito especial de preparação, quer espiritual, quer humana, quer intelectual dos candidatos ao sacerdócio. São um tempo para crescer na relação íntima com Deus e aprofundar a vocação que o Senhor nos concede a nós, seminaristas. Vocação significa “chamamento”. Deus chama incessantemente muitos jovens e espera deles um sim. Esse sim deve ser convicto e dado com a alegria de quem recebe tão grande dom. Deve ser um sim dócil de quem acolhe com humildade uma eleição por parte de Deus, à semelhança da Virgem Maria, que, na Anunciação, se despojou de si mesma e acolheu a Vontade de Deus com uma total e inquebrantável confiança. Esta deve ser a atitude daquele que se sente chamado por Deus a ser Seu discípulo, e que, de livre vontade e com um enorme desejo de cumprir a de Deus, aceita consagrar-Lhe toda a sua vida e ao Seu Povo através do ministério sacerdotal.
Esta eleição da parte de Deus quer fazer do eleito uma presença salvífica de Cristo junto dos homens. De facto, através do ministério sacerdotal, Cristo configura consigo o padre. É por este motivo que o sacerdote é um “alter Christus”, um outro Cristo. Ao receber o segundo grau do sacramento da Ordem, torna-se Cristo Bom Pastor e, para ser esta imagem viva e fiel, necessita de manter constantemente a primazia de Deus na sua vida. Para que o sim que foi dado aquando do chamamento inicial de Deus não perca o seu vigor durante o tempo de Seminário e na vida de padre, é necessário este profundo enraizamento com Cristo. Este é o centro de uma identidade sólida, tão fundamental à vida de um seminarista e que deve ser cultivada desde cedo e durante toda a vida futura. Esta identidade sacerdotal constrói-se e deve ser caracterizada por uma radicalidade evangélica e por uma fidelidade à vocação, que se concretiza na fidelidade a Deus e à Sua Santa Igreja.
Durante este tempo de Seminário, nós, seminaristas, por vezes deparamo-nos com o receio de não conseguir corresponder dignamente a um tão exigente chamamento que pressupõe uma doação total de si. É por isso muito importante não ter confiança nas próprias forças mas, sim, no Espírito Santo, que nos auxilia com os Seus dons. Deste modo, é indispensável que aprendamos desde já a termos Cristo crucificado, com quem também queremos ser crucificados, como centro absoluto das nossas vidas, e a guardarmos como ponto fulcral desta centralização, o mistério que Ele próprio nos deixou, a Eucaristia. De facto, a Missa é o ponto culminante do dia de qualquer seminarista. Para mim é uma grande graça poder receber diariamente este admirável sacramento onde, pelas mãos do sacerdote, que também eu desejo ser um dia, Nosso Senhor renova o Seu Sacrifício e se torna realmente presente nas espécies consagradas, dando-Se-nos a comer para nossa salvação. A par com a Missa, tem um lugar primordial o sacramento da Penitência, pelo qual Deus perdoa os nossos pecados e nos reconcilia consigo, reavivando em nós a pureza recebida pelo Baptismo que continuamente escurecemos com as nossas faltas.
Temos assim o caminho que conduz à santidade e à união com Deus. A santidade não é só um ideal, ou seja, não é apenas para os seminaristas, para os padres ou para os religiosos. É antes uma vocação universal, que está ao alcance de todos, como nos lembra o Concílio Vaticano II (cf. LG 41). Deste caminho que nos ajuda a aperfeiçoar e a aprofundar a relação com Deus, faz parte também, e é-nos igualmente proporcionada no Seminário, a adoração ao Santíssimo Sacramento, a meditação da Palavra de Deus, a oração comunitária do terço, momentos de oração pessoal e um acompanhamento espiritual, humano e vocacional por parte da equipa formadora.
Imprescindível em todo este processo é, sem dúvida, a oração que todos podemos apresentar a Deus pelos nossos Seminários e pelo germinar de novas vocações. Igualmente importante é o nosso exemplo, uma vez que todos os baptizados são evangelizadores! Aqui, a família tem um papel preponderante, pois, o Senhor serve-se de nós para chamar os que Ele escolhe. Também no meu caso devo isso, em parte, quer à minha família, quer às Irmãs de S. José de Cluny, que tanto ajudaram a que crescesse no meu coração um grande amor pelo Senhor. Que Santa Joana Princesa, nossa fiel intercessora, rogue a Deus para que faça surgir na Sua Igreja muitas e santas vocações, jovens que se queiram consagrar totalmente a Deus e ao Seu Povo. Jovens que venham a ser homens de Deus, homens do sagrado, homens de oração e, por isso, fiéis instrumentos nas mãos de Deus e colaboradores na salvação das almas, dando a sua vida em resgate de muitos (cf. Mt 20, 28).
Helder Ruivo, Seminarista do 5.º ano, em Lisboa